O que vamos discutir aqui: nervosismo, entrevista de emprego, ansiedade, como lidar com o nervosismo.
Recentemente me lembrei das minhas entrevistas de emprego, em especial as entrevistas para conseguir o meu primeiro emprego. Me lembrei de como o nervosismo (e outras emoções) foram prejudiciais nesse momento, e sei que isso também pode acontecer com você.
Eu acordei de madrugada naquele dia. Era a minha entrevista para Jovem Aprendiz no mercado Pão de Açúcar. Morava na periferia, por isso tive que acordar bem cedo. Mas, nunca dormi cedo, então eu havia dormido pouco naquela noite. O nervosismo começou a me tornar nesse momento: como vou fazer uma entrevista com sono?
Quando cheguei no local onde o processo seletivo aconteceria, me deparei com uma cena que me fez entrar em pânico: uma quantidade assustadora de outros jovens com a minha idade que também fariam aquela mesma entrevista. Como eu, um garoto da periferia, conseguiria me destacar em meio a tanta gente?
Fui avançando nas etapas até chegar na dinâmica em grupo. Meu grupo teria que apresentar e vender um produto que não fazia sentido, era algo como um copo quebrado, não me lembro bem. Eu teria que falar para o recrutador e para todos aquele outros jovens naquela sala. Imagina como me senti.
Comecei a suar, senti meu coração acelerado, estava com as mãos fechadas e tão apertadas que era possível sentir as minhas unhas machucando as palmas das minhas mãos. Eu queria sair correndo dali, mas também queria muito o emprego. Então eu fiquei e enfrentei aquela situação. Falei com um pouco de gagueira, mas tentei demonstrar confiança.
Apesar de ter sido difícil aquela situação, mais difícil ainda foi o momento da entrevista individual, quando tive que encarar face a face a recrutadora, que estava sentada na minha frente pronta para me fazer muitas perguntas. – Meu Deus! Eu não vou resistir a isso. Pensei.
Começou. Ela me pediu para falar sobre mim, para falar sobre a minha vida. Me pediu para falar defeitos e qualidade que eu reconhecia que tinha. Uma pergunta me deixou um pouco confuso: qual animal você seria? Eu disse cachorro. Sempre gostei de cachorros e eles são amigáveis e leais. Acredito que ela gostou, pois deu um sorriso de canto.
Falando assim, parece que foi super tranquilo, mas não foi. Eu estava gaguejando, tremendo, nervoso. E, confesso, toda essa ansiedade me deu vontade de ir ao banheiro várias vezes, mas me segurei. Embora tudo isso tenha acontecido em uma única manhã, eu permaneci ali, mesmo com muita dificuldade de cuidar das minhas emoções.
Eu acredito que essa será a sua primeira vitória: permanecer firme em meio a uma confusão de emoções. Lidar com as emoções não é fácil, mas é possível. O que queremos, na verdade, é fugir dessas emoções. Mas, como fugir de algo que está em nós? Como decidir, de uma hora pra outra, que não queremos mais sentir medo e ansiedade? É impossível.
O que temos de fazer é lidar com as nossas emoções como algo que faz parte de nós, porque faz mesmo. É reconhecê-las como algo normal, mesmo que em alguns momentos (como é o caso da entrevista) elas se alterem a níveis quase insustentáveis.
Uma técnica que me ajuda muito até hoje. O que eu estou sentindo nesse momento é proporcional à situação que estou vivendo? Estou gastando muita energia em sentir medo para uma situação que não exige tanto medo assim? Por que toda essa ansiedade se não tenho poder nenhum sobre o meu futuro? Ora, se eu der o meu melhor, não me escolher para essa vaga não será um problema que está em mim, mas sim uma decisão do recrutador que, provavelmente, tinha outro perfil em mente.
Um dia, eu fui a uma entrevista para um emprego em uma empresa de turismo. Eu já havia passado por muitas entrevistas e, na minha cabeça e coração, eu já me sentia super preparado. Não imaginei que ficaria tão nervoso. Pouco antes de me chamarem para o momento de apresentação individual, eu senti o meu coração acelerar de um modo desproporcional. Achei que teria que pedir licença e sair da sala.
Naquele momento, eu parei e refleti: o que estou sentindo agora é um medo desproporcional a esta situação. A próxima etapa é apenas uma apresentação pessoal. Eu sei quem sou, sei meu nome, sei de onde vim. Estou gastando muita energia para algo que não é necessário. Fiz um exercício de respiração, conversei com as minhas emoções e senti meu coração se acalmar.
Sabe aquela palavrinha “autoconhecimento”? Sim, um clichê. Porém, muito necessária nessa jornada. Sim, acredite, se conhecer é importante. Se você se conhece ao ponto de saber que tem ansiedade, saberá que precisa conhecer algumas técnicas para se acalmar em momentos como a entrevista de emprego, em especial se for uma entrevista para primeiro emprego.
A minha vaga para o Pão de Açúcar era para ser Jovem Aprendiz. Eu passei naquela entrevista, recebi a ligação 7 dias depois pedindo para abrir conta e levar os documentos para o RH da empresa. Aquele garoto de 15 anos do entorno de Brasília havia conseguido o seu primeiro emprego.
É tão importante esse momento. Visualize você, agora, trabalhando na empresa que você enviou o seu currículo e terá uma entrevista nos próximos dias. Só de pensar nessa entrevista, talvez você já tenha ficado nervoso ou nervosa, mas lembre-se: suas emoções são suas, você tem o direito de senti-las, mas também tem o poder de controlá-las.
Se prepare para sua entrevista, conheça a empresa, estude possíveis perguntas que podem ser feitas e, principalmente, se conheça. Quem é você, de onde veio, quem são seus pais, quais são as suas principais motivações e sonhos, e quais são as suas principais emoções, aquelas que se afloram em momentos de tensão. Converse com suas emoções, entenda elas. No momento em que elas resolverem aparecer de maneira exagerada, questione-as, converse consigo mesmo, respire e vá em frente.
Trate a sua mente como uma amiga que você conhece muito bem e que, por consequência, também te conhece muito bem. O que você faria para tranquilizar uma amiga? Um amigo? Conversaria, pediria para respirar, diria o quanto ele ou ela é capaz. Faça isso consigo mesmo.
Eu ouvi recentemente que dificilmente somos convencidos pelos outros e que é mais fácil nos convencermos sozinhos. Já viu aquela pessoa que você diz: “fumar é prejudicial para a sua saúde” e ela fica com raiva e ainda retruca: “não pedi sua opinião”.
Essa pessoa precisará se convencer sozinha de que fumar não é bom.
Assim também é com uma mente e coração nervosos. Precisamos nos convencer. Se eu disser para você 5 minutos antes de sua entrevista: “fique tranquilo, você vai conseguir” talvez isso não resolva nada. Mas conversar consigo mesmo, refletir sobre sua qualidade, sua competência, será muito mais eficiente.